Jornal Coletivo – 10/01/2009
Ônibus Agora é Sala de Leitura
O cobrador Antônio Conceição, 36 anos, transformou o coletivo que faz a linha 82, para o Núcleo Bandeirante, em uma pequena biblioteca sobre rodas. O projeto iniciado por ele em fevereiro do ano passado é um sucesso e só foram registrados, até agora, dez casos de pessoas que não devolveram livros.
“Não há título e estilo específicos preferidos pelo público. Em geral os passageiros analisam a espessura do livro. Quando a obra é fina, aproveitam o percurso do ônibus para devorá-la. Quando é mais grossa, levam para casa para concluir a leitura com mais tempo”, disse.
A idéia do projeto, intitulado Cultura no Ônibus, partiu do próprio Antônio, que sempre gostou de ler, mas durante a infância encontrou sérias dificuldades por ter estudado em colégio público no Maranhão. Lá ele tinha de pegar emprestado. Ele continua apreciando a leitura, mas atualmente falta-lhe tempo para se dedicar mais, o que lamenta. “Só a educação traz bons frutos para o ser humano”. Capitães da areia, de Jorge Amado, foi o pontapé inicial do projeto. Graças a uma senhora que se interessou pelo livro levado por Antônio, a idéia prosseguiu. Sua primeira doação foram de três livros e o cobrador até hoje agradece àquela senhora: “Ela me deu o incentivo necessário para prosseguir com minha idéia”, diz Antônio, que aproveita para pedir mais doações. Qualquer pessoa pode doar livros, desde que tenha interesse pelo projeto. Basta ligar para o telefone 9195-5023 e falar com o próprio Antônio.
Novos investimentos na Educação
A meta do cobrador é abranger todas as linhas do transporte coletivo do Distrito Federal. Falta a Antônio, sobretudo, espaço físico. Pelo restante ele se responsabiliza e defende que o incentivo à leitura começa em casa. Para este obstinado cobrador, não basta só a escola estimular o hábito da leitura em seus alunos. Quanto ao governo, ele sugere que crie mais espaços para leitura: “Se dedicar sempre mais ao investimento na educação”. Antônio é um cidadão consciente e o objetivo o é levar a todas as classes sociais e faixas etárias o que um dia ele tanto quis e não teve oportunidade de conseguir.
“Meu maior retorno é o prazer de difundir a cultura e estimular outras pessoas a fazerem o mesmo. Graças ao meu incentivo, meu filho hoje tem muito mais prazer pela leitura”, afirma.